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Mensagem do Blog Povo Ameríndio para o Dia do Índio de 2009

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"Mas agora ele só tem o 19 de Abril..."

Muito se fala sobre o passado, especialmente sobre o extermínio dos índios norte-americanos. E o presente, e os índios brasileiros? Este vídeo de 3min e 43s apresenta uma visão forte sobre o assunto.

Essa é uma homenagem do Blog Povo Ameríndio a todos aqueles que são nativos das américas ou seus descendentes.

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domingo, 5 de outubro de 2008

Mayuta: o Pajé Kalapalo e seu conhecimento xamã

É interessante saber que quem se habilita a ser um pajé precisa ficar recluso seis anos, sem sexo, dentro de uma oca onde a luz do sol raramente entra. Mas isso nos faz pensar no choque cultural entre a sabedoria indígena e o dinamismo da "sociedade da informação", onde - nessa última - a importância da informação é direcionada à guerra hipercompetitiva de mercados que visam a produção para satisfazer as necessidades (desejos?) de um mercado consumista e arrogante - mesmo que não tenhamos nos dado conta disso.

Élon Brasil é um artista plástico brasileiro, auto-didata, de excelente formação cultural e consciente de seu papel de cidadão-formador-de-opinião. Sua obra é composta por imagens da terra: índios, negros e caboclos, cercados por textura e cores marcantes. Sua temática busca ressaltar e preservar a cultura brasileira e suas próprias raízes.


Élon Brasil - Menina Kalapalo


Lendo o livro "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas" (EDITORA TERCEIRO NOME) - e admirando suas belas artes - encantei-me também pela passagem em que Élon conta em seu depoimento a Damásio Contreras um ritual de "pajelança" na aldeia Kalapalo (Sul do Parque Indígena do Xingu). Segue a transcrição:

"Havia uma índia passando mal, cuspindo sangue. Moléstia chamada, na região, de "doença de índio", como se fosse tuberculose. O sangue vinha em golfadas, a índia gemia sem parar. Os próprios índios diziam: ela vai morrer. Disso, Élon não tinha a menor dúvida.

Mayuta se fez acompanhar de outros dois pajés. Em geral, a "equipe médica" é composta de três, chefiada pelo pajé principal. Conversando com os outros pajés, Mayuta determinou a estratégia da abordagem terapêutica. Os pajés cantavam baixinho, algo como um mantra; Mayuta pegou aquele seu cigarro longo e largo, acendeu-o, e ficou soprando os tragtos no peito da índia doente.

Depois, mandou-a abrir a boca e jogou a fumaça dentro. Tudo acompanhado de frases inacessíveis ao conhecimento de Élon. O cigarro era feito da mesma folha que o artista havia conhecido, nos fins de tarde ao lado do xamã.

A sessão toda durou cerca de doze horas. Iniciou-se em um começo de noite, atravessou a madrugada e viu o dia raiar. O contato com a doente, a fumaça no peito e dentro da boca, levou pouco tempo, apenas três horas, mas os curandeiros ficaram ali, como que rezando pela índia adormecida.

Logo cedo, a moça levantou, como se não tivesse acontecido nada. Pegou um filho, pôs no colo e andou pela aldeia, pra lá e pra cá. Chegou a se dirigir ao artista plástico, provavelmente porque o viu na longa sessão de tratamento, falou alguma coisa para ele, que não entendeu.

Diante desse acontecimento, Élon percebeu, muito nitidamente, o quanto nos afastamos da nossa essência. Convenceu-se de que a arrogância transforma nossos átomos, por mais humanistas que imaginemos ser. Em uma cidade grande, estamos cercados de Mal por todos os lados. De repente, é preciso que um espiritualista das selvas, um Mayuta, venha nos ensinar que a natureza pode muito. Quase tudo."


(Brasil, Elon. Elon Brasil: e as nossas raízes encantadas / depoimentos a Damásio Contreras; [tradução para o inglês Juliana Spink]. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2008)

5 comentários:

A. T. Sergio disse...

Tenho que citar o dito: "há mais coisas entre o céu e a terra..."

Voltar às origens, aproximando-nos da natureza e de nossas origens ancestrais é essencial. Há muito o que aprender...

Fla Barbieri disse...

Meu querido amigo Caetano,
olá !
;)

O que torna as pessoas interessantes é a diversidade de informações culturais que compõe seu universo.
Estava procurando um novo livro para ler, após terminar o delicioso "História de Mulheres" da Rosa Montero... a coincidência é que adorei a passagem de "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas...", e o livro entrou para minha seleta lista.
Você como sempre, me encanta e me ensina...
"Que me desculpem os burros, mas cultura é fundamental..."
SUCESSO SEMPRE PARA VOCÊ, QUERIDO AMIGO !!

Seu blog está fantástico !

;)
*Smuaks*
Fla.

Fla Barbieri disse...

Meu querido amigo Caetano,
olá !
;)

O que torna as pessoas interessantes é a diversidade de informações culturais que compõe seu universo.
Estava procurando um novo livro para ler, após terminar o delicioso "História de Mulheres" da Rosa Montero... a coincidência é que adorei a passagem de "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas...", e o livro entrou para minha seleta lista.
Você como sempre, me encanta e me ensina...
"Que me desculpem os burros, mas cultura é fundamental..."
SUCESSO SEMPRE PARA VOCÊ, QUERIDO AMIGO !!

Seu blog está fantástico !

;)
*Smuaks*
Fla.

Caetano Mauro disse...

Grande Guru! Grande Fla!

Quero agradecer aos posts de vocês dois. Muito obrigado pela participação.

Realmente os índios nos trazem de volta às origens, à ancestralidade do ser humano. Talvez essa forma de buscar entender quem nós somos, de onde vivemos, é que o artista Élon Brasil vem procurando em seus trabalhos, andanças e vivências.

Continuem participando do Blog Povo Ameríndio.

Obrigado,

Caetano Mauro

Arte e Estética disse...

Parabéns pelo seu blog! Sou fã do trabalho do Elon Brasil, fantástico!
Fico imaginando quando aprenderemos a vivenciar o que o Chefe Seattle nos disse há tanto tempo... "Tudo está ligado. Todas as coisas estão ligadas", quando percebermos que não podemos perturbar a teia sem perturbar a nós mesmos, estaremos entrando numa nova ordem, deixando então de sermos solitários para nos tornamos efetivamente solidários!