Élon Brasil é um artista plástico brasileiro, auto-didata, de excelente formação cultural e consciente de seu papel de cidadão-formador-de-opinião. Sua obra é composta por imagens da terra: índios, negros e caboclos, cercados por textura e cores marcantes. Sua temática busca ressaltar e preservar a cultura brasileira e suas próprias raízes.
Élon Brasil - Menina Kalapalo
Lendo o livro "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas" (EDITORA TERCEIRO NOME) - e admirando suas belas artes - encantei-me também pela passagem em que Élon conta em seu depoimento a Damásio Contreras um ritual de "pajelança" na aldeia Kalapalo (Sul do Parque Indígena do Xingu). Segue a transcrição:
"Havia uma índia passando mal, cuspindo sangue. Moléstia chamada, na região, de "doença de índio", como se fosse tuberculose. O sangue vinha em golfadas, a índia gemia sem parar. Os próprios índios diziam: ela vai morrer. Disso, Élon não tinha a menor dúvida.
Mayuta se fez acompanhar de outros dois pajés. Em geral, a "equipe médica" é composta de três, chefiada pelo pajé principal. Conversando com os outros pajés, Mayuta determinou a estratégia da abordagem terapêutica. Os pajés cantavam baixinho, algo como um mantra; Mayuta pegou aquele seu cigarro longo e largo, acendeu-o, e ficou soprando os tragtos no peito da índia doente.
Depois, mandou-a abrir a boca e jogou a fumaça dentro. Tudo acompanhado de frases inacessíveis ao conhecimento de Élon. O cigarro era feito da mesma folha que o artista havia conhecido, nos fins de tarde ao lado do xamã.
A sessão toda durou cerca de doze horas. Iniciou-se em um começo de noite, atravessou a madrugada e viu o dia raiar. O contato com a doente, a fumaça no peito e dentro da boca, levou pouco tempo, apenas três horas, mas os curandeiros ficaram ali, como que rezando pela índia adormecida.
Logo cedo, a moça levantou, como se não tivesse acontecido nada. Pegou um filho, pôs no colo e andou pela aldeia, pra lá e pra cá. Chegou a se dirigir ao artista plástico, provavelmente porque o viu na longa sessão de tratamento, falou alguma coisa para ele, que não entendeu.
Diante desse acontecimento, Élon percebeu, muito nitidamente, o quanto nos afastamos da nossa essência. Convenceu-se de que a arrogância transforma nossos átomos, por mais humanistas que imaginemos ser. Em uma cidade grande, estamos cercados de Mal por todos os lados. De repente, é preciso que um espiritualista das selvas, um Mayuta, venha nos ensinar que a natureza pode muito. Quase tudo."
(Brasil, Elon. Elon Brasil: e as nossas raízes encantadas / depoimentos a Damásio Contreras; [tradução para o inglês Juliana Spink]. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2008)
5 comentários:
Tenho que citar o dito: "há mais coisas entre o céu e a terra..."
Voltar às origens, aproximando-nos da natureza e de nossas origens ancestrais é essencial. Há muito o que aprender...
Meu querido amigo Caetano,
olá !
;)
O que torna as pessoas interessantes é a diversidade de informações culturais que compõe seu universo.
Estava procurando um novo livro para ler, após terminar o delicioso "História de Mulheres" da Rosa Montero... a coincidência é que adorei a passagem de "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas...", e o livro entrou para minha seleta lista.
Você como sempre, me encanta e me ensina...
"Que me desculpem os burros, mas cultura é fundamental..."
SUCESSO SEMPRE PARA VOCÊ, QUERIDO AMIGO !!
Seu blog está fantástico !
;)
*Smuaks*
Fla.
Meu querido amigo Caetano,
olá !
;)
O que torna as pessoas interessantes é a diversidade de informações culturais que compõe seu universo.
Estava procurando um novo livro para ler, após terminar o delicioso "História de Mulheres" da Rosa Montero... a coincidência é que adorei a passagem de "Élon Brasil e as nossas raízes encantadas...", e o livro entrou para minha seleta lista.
Você como sempre, me encanta e me ensina...
"Que me desculpem os burros, mas cultura é fundamental..."
SUCESSO SEMPRE PARA VOCÊ, QUERIDO AMIGO !!
Seu blog está fantástico !
;)
*Smuaks*
Fla.
Grande Guru! Grande Fla!
Quero agradecer aos posts de vocês dois. Muito obrigado pela participação.
Realmente os índios nos trazem de volta às origens, à ancestralidade do ser humano. Talvez essa forma de buscar entender quem nós somos, de onde vivemos, é que o artista Élon Brasil vem procurando em seus trabalhos, andanças e vivências.
Continuem participando do Blog Povo Ameríndio.
Obrigado,
Caetano Mauro
Parabéns pelo seu blog! Sou fã do trabalho do Elon Brasil, fantástico!
Fico imaginando quando aprenderemos a vivenciar o que o Chefe Seattle nos disse há tanto tempo... "Tudo está ligado. Todas as coisas estão ligadas", quando percebermos que não podemos perturbar a teia sem perturbar a nós mesmos, estaremos entrando numa nova ordem, deixando então de sermos solitários para nos tornamos efetivamente solidários!
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